sexta-feira, 17 de abril de 2009

Religião e política se discute?

A pergunta abaixo foi enviada para a rádio, pela ouvinte Vera M. Guedes.
- Ronaldo, gostaria de saber a sua opinião sobre a frase “Religião e política não se discute”, pois sempre que o assunto aparece numa roda, alguém faz uso dela para fugir da conversa.
A resposta foi dada com o seguinte artigo:


Religião e política se discute?


Muitas pessoas para fugir da responsabilidade de emitir opinião sensatas ou do incômodo de ouvir uma opinião contrária a sua, afirmam que “política e religião não se discute”. Essa atitude reflete mais comodismo que bom-senso, constituindo, também, uma declaração de indiferença para com temas intimamente associados aos destinos da humanidade.
Por falta de maturidade intelectual, a maioria daqueles que debatem religião e política acham que precisam defender seus pontos de vista a qualquer custo, não disponibilizando a menor atenção para com as razões dos outros. Essa é uma atitude, que os indivíduos de intelectualidade mais experiente e séria aprenderam a rejeitar ao longo da vida. Quanto mais sabedoria se adquire, mas interesse se tem naquilo que os outros tem a dizer. Mas há também, já no caso das lideranças religiosas, o problema dos interesses imediatos: desde o financeiro até a ambição pelo poder. Uma vez rendida ao interesse, não há criatura capaz de debater qualquer tema com suficiente desprendimento para reconhecer a verdade onde ela desponte. As religiões, de um modo geral, estão presas a modelos politico-financeiros não suscetíveis a questionamentos livres.
Existem discussões, que são verdadeiros monólogos, um entrechoque cego de argumentos, em que se fala muito, mas não se chega a conclusão alguma, onde o mais importante é não ceder as disposições contrárias. Quando o debate se resume num duelo, a verdade torna-se um personagem desprezado e fora de cena, e os objetivos superiores do diálogo deixam de existir. A intransigência domina os argumentos, e as mentiras fazem o resto do serviço. O radicalismo orgulhoso se impõe, mesmo quando se reconhece perdido e sem trincheiras.
Lamentavelmente, essa falta de maturidade é considerada por muitos uma forma “lógica” de sobrevivência na tempestade. Religiosos fanáticos e sem conteúdo, que pregam tolices fervorosamente, tanto quanto políticos mal-intencionados que lutam pelo poder sem nenhum escrúpulo, agem assim.
Se nós já tivéssemos consagrado definitivamente em nossas vidas o elevado dom da honestidade; se nosso interesse fosse realmente encontrar verdades e soluções que pudessem efetivamente ser úteis a todos; se descobríssemos o real significado da palavra imparcialidade, nossos diálogos seriam muito mais intensos e produtivos. Mas a grande dificuldade é vencer as cegas ambições humanas, que empurram a humanidade em direção as trevas pervertendo a lógica e criando regras não universais, ao contrário, que não passam de mera expressão de interesses de grupos isolados.
Infelizmente tem sido essa a razão do grande atraso na mentalidade religiosa de todos os tempos, tendo como conseqüência à ineficácia do modelo religioso tradicional que trouxe tantas guerras e conflitos ao mundo ao invés de pacificá-lo.
De qualquer forma, aqueles que gostam de estudar religiões sabem que se não houver desrespeito pelo interlocutor, se o debate não for irônico, se não houver preconceito, se for do mesmo nível o interesse em ouvir quanto o de falar, ao final, serão colhidos frutos positivos na troca de idéias. O debate sadio alarga o campo das idéias, impõe revisões, sedimenta o conhecimento e ajuda a aprimorar a visão global dos temas.
Por isso, respondendo a questão que encabeça esse trabalho diremos sem medo de errar, que há muito proveito na troca de idéias mesmo no terreno polêmico da religião, quando não se tomou de antemão a decisão de não aceitar nada que o outro irá dizer, ou de defender a qualquer custo pontos de vista pessoais.

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