sábado, 18 de abril de 2009

Convivendo com vizinhos

Mais uma vez estamos no nosso bloco de Comportamento e Família, e vamos falar com Ronaldo Miguez sobre vizinhos, tema sugerido pela ouvinte Mariângela Pinheiro do bairro do Caleme, que diz ter sempre problemas com vizinhos e gostaria de saber o que fazer para evitar isso.

Gabriela: Ronaldo, o tema sugerido pela Mariana veio bem a calhar, porque nem sempre é fácil ter um bom relacionamento com vizinhos, não é mesmo?

Ronaldo: Gabriela, a sugestão da nossa ouvinte é muito importante e muito útil, porque muitas pessoas que não conseguem se relacionar de forma simpática com os vizinhos, também não sabem o que fazer para enfrentar esse desafio. Veja com relação às crianças, por exemplo. Há pouco tempo uma senhora nos relatou que a filha de uma vizinha que tinha amizade com sua filha, era abusada demais. Estava sempre na sua casa, abria a geladeira sem pedir permissão, e a primeira coisa que fazia quando chegava lá era usar o banheiro. Embora ela gostasse muito da mãe da menina, já estava a ponto de estourar e acabar com a amizade. Eu disse a ela que olhasse para aquela criança como se fosse seu próprio filho, e fizesse por ela o que gostaria que alguém fizesse pelo seu. Quem sabe ter uma conversa amiga, e aproveitar para estabelecer regras dali por diante. Nós podemos colaborar com a educação dos filhos dos outros também, e isso é uma forma de estabelecer um padrão mais participativo junto a sociedade em que vivemos. Porque não?
Crianças não têm consciência adulta, devem ser vistas como personalidades em formação. Nós já cometemos muito o erro de educar crianças como se fossem adultos, de cobrar delas posturas que elas não estão aptas a oferecer, de castigá-las duramente até dentro de salas de aula, como se isso pudesse construir nelas um caráter mais saudável e mais perfeito. Mas obrigar a obedecer não é o mesmo que conquistar. Hoje se sabe que os castigos duros demais, costumam ser mais válvulas de escape para a irritação e as frustrações dos adultos, do que um desejo louvável de auxiliar a educação infantil. Se tivermos que chamar a atenção do filho dos outros, façamos isso com carinho, com a amizade de quem ensina, de quem ampara, e seus pais, com uma grande probabildade de acerto, não ficarão melindrados.
Muito freqüentemente, pais entram em confronto por causa de desentendimentos momentâneos de seus filhos. Certa vez, eu assisti num clube campestre uma criança agredir a outra com um carrinho, e na mesma hora os pais, ao invés de aproveitarem o ocorrido para orientar as crianças, começaram a bater boca e trocar acusações e ameaças, sem nem perceber que antes que eles terminassem a desavença, as crianças já estavam brincando juntas novamente. Uma regra muito importante nesse aspecto é: Se o problema são as crianças, não olhe para o filho dos outros como se fossem coisas, e para os seus como se fossem pérolas. Não subestime a educação que os outros pais dão aos seus filhos, não os censure antecipadamente, porque nem todas as crianças são iguais, todos os pais têm dificuldades para educar seus filhos. Eu acredito que uma coisa que a gente precisa aprender sendo pai e mãe, é ser compreensivo com crianças de uma forma geral, nós precisamos amar as crianças pelo simples fato de elas serem promessas, e assim podemos nos envolver com o problema da educação de uma forma mais social e muito mais ampla. O pai que demonstra para os seus filhos que só tem amor por eles, ensina a eles que as outras pessoas não merecem respeito algum. Quando nos tornarmos adultos, não teremos nossos pais para nos super-proteger. Proteja seus filhos, sim, mas não faça com que eles pensem que a vida dos outros não faz diferença, porque em sociedade, tudo faz diferença. Essa é uma boa forma de olhar para os filhos dos vizinhos.

Gabriela: Agora Ronaldo, que dicas você poderia dar para as pessoas alcançarem um relacionamento mais harmonioso com os vizinhos. Como lidar com essa questão de uma forma geral?

Ronaldo: Gabriela, como sempre, vamos enumerar algumas regras que ajudam bastante. Em primeiro lugar, tomar a iniciativa de ser amável com vizinhos novos. Começar pelo começo. Os Norte-Americanos tem o hábito de oferecer bolo, tortas ou biscoitos para os novos vizinhos, e aproveitam a oportunidade para oferecer ajuda. É um bom começo. Depois, lembrar-se de cumprimentar sempre os vizinhos quando cruzar com eles. É um gesto simples de simpatia que muita gente não faz. Passam com aquelas caras fechadas, como se quisessem dizer: - Não se meta comigo que eu sou bravo!
Uma coisa que ajuda muito a valorizar o vizinho, é pensar que numa emergência, provavelmente será algum deles o nosso socorro mais imediato. Quantas pessoas foram socorridas por vizinhos diante de um acidente ou um mal súbito? Eles são úteis também na nossa segurança quando se preocupam com a gente. É muito comum um vizinho chamar a polícia quando percebe movimentações suspeitas próximas a nossa casa. Outra coisa importante é evitar situações incômodas como som alto de mais, deixar um cachorro latindo a noite toda etc. A regra é: coloque-se no lugar dos outros. Se você se incomodaria com alguma coisa, evite submeter o seu vizinho a isso também. Por último lembrar que pequenas gentilezas são excelente regra de convivência, e preferir sempre um bom diálogo que uma boa discussão. Quem tem paciência e sabe conversar não faz inimigos, ao contrário, conquista as pessoas. E não se esqueça: Dê bom dia, boa tarde e boa noite aos seus vizinhos.

Entrevista realizada na Rádio Geração 2000, Teresópolis, RJ, Programa "Show de Domingo".

Motivos de briga entre vizinhos

Cachorro, cano, carro e criança
As quatro palavras que começam com cê, de condomínio, são a causa de 75% das brigas entre vizinhos.
Para diminuir os problemas envolvendo os 45 cães dos moradores de um conjunto residencial no Jardim São Bento, na Zona Sul, o agente de trânsito e síndico Marco Antonio do Vale criou um cachorródromo. Trata-se de uma área de 20 metros quadrados, cercada, onde os bichos podem se divertir, soltos, sem incomodar ninguém. "As reclamações acabaram", diz ele. Sujeira e latido de cachorro são os principais motivos de briga entre os condôminos paulistanos.
Vagas de garagem, vazamentos de água e barulho de crianças vêm em seguida no ranking dos atritos. "Quando assumi, há cinco anos, tinha de ouvir uma queixa por dia", conta o empresário Celso Dieguez Estrada, síndico de um prédio no Jardim São Luís, também na Zona Sul. "Hoje, felizmente, temos apenas uma por mês." Para melhorar a situação, ele diz que passou a tratar cada caso individualmente, com muita conversa.

O método do empresário Carlos Eugênio Berkhout, síndico de um condomínio na Vila Mascote, na região do Jabaquara, é outro. Passou a exigir que as reclamações fossem dadas por escrito. "Tiro uma cópia e envio para o morador acusado", afirma. "Quando a questão não se resolve, reunimos os dois e designamos um conselheiro para mediar."
Especialista em direito imobiliário, o advogado Marcio Rachkorsky arbitra conflitos em cerca de 250 condomínios paulistanos. São dois casos novos por dia. Para ele, os de mais difícil solução envolvem barulho. "Muitas vezes, é complicado até identificar de onde vem o ruído, pois tem de tudo: de salto alto a festinhas nos apartamentos."
Matéria
Fonte: Revista VEJA SP - Radar Lello

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