sexta-feira, 3 de abril de 2009

Os pais e as drogas

Gabriela: Ronaldo, qualquer família corre o risco de ter um filho drogado?

Ronaldo: Gabi, a primeira coisa que nós dizemos aos pais é: Nunca subestime as drogas. Não pense que seu filho adolescente esta imune a elas porque é seu filho, por que você acha que o criou bem, etc. A juventude é uma fase de busca, de auto-afirmação, e o assédio das drogas é muito grande. Ela é até glamourizada por certos segmentos da sociedade, onde há uma associação entre droga, riqueza e poder. Existem muitos motivos diferentes para fazer com que um jovem experimente a droga pela primeira vez. Isso vai desde a insatisfação familiar até a simples curiosidade.

Gabriela: Ronaldo, como devem agir os pais diante do perigo das drogas para proteger os filhos?

Ronaldo: Os pais precisam se preparar melhor para enfrentar o problema, informando-se mais e falando com os filhos de uma forma sensata sobre isso. As drogas estão em toda à parte; nos colégios, nos condomínios onde se mora, nos clubes, nos eventos, enfim, em qualquer lugar. É preciso falar sobre elas desde cedo, – inclusive do uso do álcool - com naturalidade, porque isso desmistifica, faz com que a droga deixe de ser uma coisa secreta, uma novidade. Os adolescentes adoram coisas proibidas. Não se deve também mentir para impressionar os filhos. Eles precisam saber que a sensação que a droga causa nas primeiras vezes é agradável, mas que por ser viciante, esse prazer irá se tornar depois um tormento.

Gabriela: O que fazer para detectar o momento e que o filho poderá estar fazendo uso de drogas?

Ronaldo: A regra é: acompanhar com atenção. Observar mudanças repentinas de comportamento, ausência de comentários sobre o que esteve fazendo na rua, e estar sempre próximo do círculo de amigos do filho. Odores estranhos – a maconha por exemplo tem um cheiro bastante característico. Tomar cuidado também com as explicações que os filhos dão para explicar comportamentos estranhos, porque com o uso da droga o jovem começa a dissimular e mentir. Não se deve acreditar simplesmente no que o jovem diz quando exista suspeita de uso de drogas. Um terreno bastante perigoso hoje é a Internet, que é uma área de ação de jovens traficantes de classe média. Outro antro de uso de drogas são as festas conhecidas como Raves, que chegam a durar 12 horas. Nelas há muito consumo de drogas sintéticas como ecstazi e LSD. Em resumo, não dá para viver ausente da vida do filho e depois se surpreender com o fato de que ele esteja usando drogas.

Gabriela: Ronaldo, você falou no início que os motivos que levam um jovem a experimentar pela primeira vez a droga vão desde a insatisfação até a curiosidade. Dá pra falar um pouco mais sobre isso?

Ronaldo: Claro Raquel. Jovens que não se relacionam bem com os pais, que são vítimas de violência física ou agressões verbais, que são humilhados por pais desequilibrados e nervosos, ou são tratados com abandono e indiferença, desenvolvem uma auto-estima baixa, sentem-se infelizes, incompreendidos, e tendem a se tornar depressivos. Esse quadro conspira a favor das drogas, porque ela passa a ser vista como uma porta para a liberdade, como um alívio. Já a curiosidade esta relacionada ao senso de responsabilidade. Precisamos preparar os filhos para ter responsabilidade sobre os próprios atos, porque pessoas irresponsáveis demais, não se incomodam em correr riscos, em se expor ao perigo. Eles acham que podem tudo, até experimentar drogas. Senso de responsabilidade é senso de limite, um treinamento que se deve ter em casa desde a primeira infância. Pais permissivos demais, ou omissos, não ensinam os filhos a medir conseqüências.

Gabriela: Em relação à informação que você citou também. Como os pais podem obter mais informações sobre esse assunto?

Entrevista
Ronaldo: Interessando-se mais por leituras, participando de cursos e encontros que levantem questões relacionadas às drogas. Devem também solicitar que o colégio de seus filhos ofereça essa preparação, tanto para pais quanto para alunos. Como eu disse antes, quanto mais cedo melhor. Isso ajuda a banalizar a importância da droga. Muitos pais têm preguiça de se informar porque perderam o hábito de ler ou de estudar, mas precisam vencer essa acomodação para salvar seus filhos. Afinal, esta em jogo a felicidade deles e o destino da família. Não se convence um jovem da era da comunicação com argumentos incompletos. Não basta dizer não faça. Não adianta também ameaçar. A droga é mais forte do que isso. Ela só pode ser vencida pela solidez do vínculo familiar, pelo caráter afetivo da relação com os pais, pela confiança que exista entre eles e os filhos. Um jovem que tem nos pais seus melhores amigos, que confia neles, dificilmente entrará para o mundo das drogas. Já os pais ausentes deixam livre o caminho para os traficantes.

Entrevista
Entrevista realizada no estúdio da Rádio Geração 2000 - Teresópolis Rj, em fevereiro de 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário nos ajuda a aprimorar as matérias e encontrar focos de interesse que possamos explorar.