terça-feira, 7 de abril de 2009

Briga entre irmãos


Briga entre irmãos

Elisângela: No bloco de comportamento de hoje, vamos saber mais com Ronaldo Miguez sobre o tema “Briga entre irmãos”, que foi sugerido por uma ouvinte da Rádio.
Ronaldo, a briga entre irmãos, por ser tão comum, pode ser considerada uma ocorrência
natural?

Ronaldo: Sim, é natural. É a fase em que os indivíduos estão delimitando seus espaços, construindo identidade e valores. Aí eles brigam porque um quer ver TV e o outro quer dormir, porque os dois querem um brinquedo ao mesmo tempo, um é organizado e o outro não, e até por ciúmes quando um deles acha que o outro é o preferido dos pais. Mas nem todos os casos são iguais. De qualquer forma, existe um limite para se considerar isso normal. Se o quadro toma um formato exagerado, pode sair do controle, e aí torna-se preocupante.

Elisângela: Mas a briga entre irmãos é sempre um motivo de preocupação para os pais. Não é mesmo?

Ronaldo: Sim Elisângela. Sobretudo quando existe agressão física. Os pais amam ambos os filhos, e isso os faz sofrer. E grande parte deles não sabe o que fazer diante de um quadro grave. Muitos até acabam influindo de forma negativa. Existem casos em que os irmãos passam a se odiar, ou cortam relações.

Elisângela: Como devem proceder os pais para amenizar esse conflito?

Ronaldo: Em primeiro lugar agir sempre com neutralidade, para não jogar um contra o outro. Se tomarem partido, agravam o problema e as brigas aumentam porque se acumulam ressentimentos. Evitar fazer queixas de um para o outro, e não levar em consideração todas as queixas, porque muitas vezes podem ser manipulações. Outro ponto importante é o castigo. Muitos pais tendem a pensar que um castigo severo pode fazer com que um filho não bata no outro, ou deixe de ser implicante, por exemplo. Mas uma pesquisa feita com 1700 voluntários na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, levou os pesquisadores a conclusões muito diferentes. Uma delas é a diferença de eficácia entre o limite interno e o externo. Ou seja: o castigo impõe limites externos, a ameaça de punição. Mas no fundo a criança pensa “não vou bater porque meu pai vai me castigar” ou “vou esperar a hora em que ele não estiver me vigiando”.
Já o limite interno tem que derivar de um convencimento, de uma educação esclarecida, um trabalho mais longo que exige paciência por parte dos pais e depende de muito diálogo e afeto. Nós temos que ajudar as crianças a construir justificativas internas, razões internas, porque elas formam a personalidade, a índole, e aí elas se tornam capazes de controlar ou administrar a si mesmas de forma mais positiva.

Elisângela: O que os pais devem fazer para ajudar as crianças a construir essa justificativa interna?

Ronaldo: Quando eu disse que os pais devem evitar tomar partido, não é a mesma coisa que serem passivos. Eles devem fazer intervenções para ajudar as crianças a definir seus espaços, agindo sempre de uma forma justa. Quanto mais insistirem no diálogo, melhor. Outra coisa importante é a construção de princípios. Crianças acostumadas a viver num ambiente de violência, dificilmente serão tranqüilas. É bom formalizar uma espécie de pacto de não-agressão familiar, algo que funcione como uma bandeira a que se possa recorrer em momentos difíceis e a qual todos se sintam submetidos. Assim não fica parecendo que se esta defendendo um em desfavor do outro. Se uma criança se sentir preterida, ela tenderá a descontar sua frustração no irmão que, mesmo que isso não seja verdade. Mesmo quando você é justo, os filhos tendem a pensar na hora em que não receberam aprovação, que os pais protegem ou preferem o irmão ou a irmã. É um grande desafio ser imparcial, e depois convence-los dessa imparcialidade.

Elisângela: Ronaldo, você falava no início sobre conquista de espaço na infância. Até onde a agressividade nessa hora, faz parte do processo de crescimento pessoal? E quando é que ela se torna um problema?

Ronaldo: Eu costumo dizer Elisângela, que a agressividade se torna um problema quando você a utiliza contra os outros e não a favor de si mesmo ou de todos. O que é isso? Eu preciso dos meus potenciais agressivos para me desenvolver, para me expandir, a agressividade faz parte do meu instinto de sobrevivência. Nesse sentido ela é boa e podemos falar de uma agressividade saudável, que confere o espírito empreendedor, por exemplo. Ela é um ingrediente da ambição natural de crescimento e realização. Por isso não se deve reprimir de forma austera demais uma criança quando ela manifesta seus potenciais agressivos; ela precisará deles para viver, para reagir às adversidades. Agora, é preciso ensinar a ela uma forma construtiva de usar a sua energia.


Entrevista realizada no estúdio da Rádio Geração 2000, Teresópolis, RJ, em abril de 2009.

Um comentário:

  1. Bom dia Ronaldo, parabéns! é um "show de blog". Tô contigo e não abro!

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